A NOSSA ORIGEM

VINHOS QUE SUBLIMAM UMA CASTA ÍMPAR

Provar um alvarinho Dom Ponciano é um prazer sensorial irrecusável que desperta os sentidos e predispõe a alma a outras viagens.
Para desfrutar plenamente desta experiência, imbrincada nas nossas mais profundas raízes históricas e culturais, deixe-se conduzir por uma narrativa que desvenda séculos de saber e tradição da arte de fazer vinho.
Descobrir as origens da viticultura em terras de Alvarinhos, acrescenta um gosto especial à fruição destes néctares a todos os enófilos que sabem que consumir vinho, é aproximar-se a uma identidade, a um território, a um modo de vida.
Percorra connosco este caminho de descoberta, feito de névoas, mistérios, surpresas e revelações. Sobre a génese e disseminação do cultivo da vinha e da viticultura no Alto Minho persistem muitas incógnitas.
A mais antiga referência conhecida sobre a presença da vinha em terras de Melgaço, é um documento inserido no Livro das Datas do Convento de Fiães, datado do século X, mais precisamente de 989, onde se afirma textualmente que aí existiam vinhas e lagares1.
Desde os primórdios da fundação da nacionalidade, existem registos históricos que atestam o cultivo da vinha nas propriedades do couto monástico de Paderne. Numerosos documentos medievais fazem referência à obrigação do pagamento de rendas em vinho.
O mosteiro de Paderne, que era então uma congregação feminina, recebeu carta de couto de D. Afonso Henriques em 1141, em agradecimento pelo auxílio das monjas na tomada do castelo de Castro Laboreiro. No século XIII, passou para a posse dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho.
Como outras congregações, a de Paderne aumentou a sua riqueza patrimonial por doações testamentárias de terrenos feitas por habitantes da Ribeira Minho. Os monges exploraram estes domínios por arrendamento recebendo dos cultivadores rendas e foros, entre os quais se encontravam os pagamentos em vinho2.

Na segunda metade do século XIV, o mosteiro de Paderne possuía já na vila de Melgaço casas onde os monges daquele cenóbio armazenavam cereais e vinho.
Na segunda metade do século XIV, o crescimento do património do mosteiro suscitou a intervenção do procurador de D. Pedro I que lhes embargou umas “casas e vinhas e herdades”3.
Neste período, já o vinho desta região era muito procurado pelos mercadores ingleses que se dirigiam a ao porto de Viana da Foz do Lima para trocar bacalhau por vinho. Os vinhos de Monção e Melgaço foram eleitos Ingleses para substituir o já afamado vinho da Borgonha quando o mesmo não lhes era acessível durante os numerosos conflitos da Guerra dos Cem Anos (1337 a 1453).
Segundo o Conde d’Aurora4, o primeiro vinho a ser exportado de Portugal para a Grã-Bretanha não foi o Vinho do Porto, mas sim os vinhos provenientes da margem esquerda do rio Minho. O vinho desta região seria outrora transportado pelo rio Vez até ao embarcadouro da Jolda (freguesia de Santa Madalena, Arcos de Valdevez), seguindo depois pelo rio Lima para a barra de Viana onde era trocado por bacalhau5. Em Viana do Castelo encontrava-se sedeada uma importante firma britânica, “Hunt Roop Teage & C”, grande importadora de bacalhau e exportadora de vinhos. Até 1678, os vinhos exportados do Norte de Portugal saíam de Viana, existindo em Monção uma companhia que regulava o seu comércio6.
Já no último quartel do século XV, existem registos do fornecimento de vinho verde à British Naval Comissioners, na barra de Viana.
No século XVI as fontes documentais mencionam a presença, no mercado do Porto, de vinhos brancos e tintos oriundos de Monção com tabelas diferenciadas entre eles7. Já na segunda metade do século XVIII, em 1758, o pároco de Paderne, em resposta ao inquérito das Memórias Paroquiais lançado pelo Marquês de Pombal após o Terramoto de 1755, coloca o vinho na terceira posição entre as mais importantes culturas da terra8.

Em 1770, o Mosteiro de Paderne foi extinto e anexados ao Mosteiro de Mafra. Os religiosos foram transferidos para este cenóbio em abril de 1771.

As antigas propriedades do couto monástico viriam a ser adquiridas em 1773 pela Família Caldas. Em 1825, o Mosteiro, juntamente com todos os seus edifícios, quinta, coutadas, pesqueiras, apresentações e mais pertenças, seriam tomados por Luís Pereira Velho de Moscoso e sua mulher.

Por escritura pública de 11 de fevereiro de 1888, reconhecida pelo Juízo de Direito da Comarca de Melgaço, José Joaquim de Abreu, Luís José de Abreu e Francisco Manuel Fernandes adquiriram as terras outrora pertencentes ao Mosteiro.

Ponciano de Abreu, a cuja memória o afamado alvarinho presta homenagem, é filho de José Joaquim de Abreu e avô de Rui Esteves, por linha materna.

Volvido mais de um século após a extinção do Mosteiro de Paderne, em 1888, as suas antigas propriedades viriam a ser adquirido pela família Abreu, ancestrais de Rui Esteves, atual detentor de parte significativa destas terras, e que as devotou à produção do internacionalmente premiado alvarinho Dom Ponciano

1 – Almeida, Carlos A. Brochado. “A origem do cultivo da vinha na bacia do Minho.” Actas do III Simpósio da Associação Internacional de História e Civilização da Vinha e do Vinho (2004).
2 – FERNANDES, Aires Gomes – Os cónegos regrantes de Santo Agostinho no Norte de Portugal em finais da Idade Média: dos alvores de trezentos à Congregação de Santa Cruz / Aires Gomes Fernandes. Coimbra: [s. n.], 2011. Tese de doutoramento. Disponível em: http://hdl.handle.net/10316/20159
3 – INIC – Chancelarias Portuguesas. D. Pedro I, Ed. Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1984, apud: MARQUES, José (2002) – O cartório e a livraria do Mosteiro de Paderne em 1770, Boletim Cultural de Melgaço, nº1, pp.9-92, Melgaço.
4 – Itinerário do primeiro vinho exportado para a Grã-Bretanha, Edição da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, 1962
5 – Estudo histórico e documental dos vinhos de Monção – Como a incompetência rebaixou o melhor vinho de mesa à categoria de taberna, Casa dos Rapazes, 1960
6 – SELLERS, Charles – Oporto Old and New. Londres: Howard & Jones, 1899.
7 – Almeida, Carlos A. Brochado. “A origem do cultivo da vinha na bacia do Minho.” Actas do III Simpósio d Associação Internacional de História e Civilização da Vinha e do Vinho (2004).
8 – ANTT – Memórias Paroquiais, vol. 27, n.º 15, fls 81 – 85